No ano de 212 a.C., após um cerco de dois anos à cidade de Siracusa, na Magna Grécia, atual Sicília, esta foi capturada pelas legiões romanas. Quando a casa de Arquimedes – que com seus engenhos ópticos e mecânicos retardou ao máximo a queda da cidade – foi invadida pelos romanos, ele estava no quintal desenhando na areia suas figuras e estudos geométricos, quando um dos soldados pisou sobre os mesmos. Noli tangere circulos meos (não toque em meus desenhos), exclamou Arquimedes em seu precário latim, sendo imediatamente morto por uma lança, que destruiu fisicamente este velho filósofo e matemático. Mas não conseguiu eliminar o seu acervo intelectual, que, atravessando os séculos, chegou até nós.







Neste blog republicaremos também artigos da minha coluna semanal BRASILIANA, do jornal MONTBLÄAT editado por FRITZ UTZERI.




sábado, 27 de outubro de 2012

Quadrilha


Ricardo amava Valério que não amava Joaquim

que não amava José que amava Inácio que amava Dilze

que não amava Minerva.

Ricardo foi para a Corte, Valério pra prisão,

Joaquim homenageado, José no calabouço,

Inácio apodreceu e Dilze casou-se com o Mensalão

que já tinha entrado na história.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Convite: Prêmio Alejandro Cabassa-2012

Tenho o prazer de convidar para a cerimônia de entrega dos prêmios da UBE-RJ (União Brasileira dos Escritores) de 2012, quando receberei, pelo primeiro lugar na modalidade Crônica, o Prêmio Alejandro Cabassa, com o livro “Cidades de Memórias”.

A cerimônia terá início às 15 horas do dia 26 de outubro, na Academia Brasileira de Letras, Av. Presidente Wilson 203, Castelo.
Rio de Janeiro-RJ.
 
Teócrito Abritta

 
Premiação UBE/RJ 2012:
Em primeiro plano com diploma: Mírian, primeiro lugar em Poesia.
Atrás: Teócrito, primeiro lugar em Crônica e, ao lado, Isabel, Menção Honrosa em Poesia.
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Tempos de Eleição


          Seria uma notícia de jornal.  Só não foi porque nestas bandas alagoanas simplesmente não existe imprensa.  Também para que?  O povo vive tão feliz vendo apenas novelas de televisão.

          Mas notícia é notícia e corre rápido.  Nos bares, vendinhas, bibocas não se comentava outra coisa.  Nas praias, pescadores riam entre os dentes.  Na lavanderia pública, mulheres batiam roupa rindo da história.  Na pracinha da televisão pública, aposentados e desempregados falavam discretamente, sorrisos contidos – pudera o homem ainda é o prefeito. 

          Difícil narrar o acontecido pela boca do povo.  Muito murmúrio, nenhum relato.  Tempos de eleição, tempos de violência: prudência é recomendada.

          O jeito foi apelar para um narrador onisciente e neutro, acima dos personagens e fatos envolvidos.

 

          A campanha eleitoral ia acirrada (V. Figuras 1 e 2).  Júnior Boi Lambão, atual prefeito, confiante em sua reeleição.  No mínimo noventa por cento do eleitorado.  Aquela oposicionista, sobrenome famoso, não merecia preocupações.  Afinal o povo não esquece passado de escândalos políticos-familiares.  Seria verdade?  Com a primeira pesquisa eleitoral já poderia celebrar vitória.

          Mas os números foram implacáveis.  Nosso prefeito tinha apenas dezesseis por cento dos votos. 

          Neste ponto entra a imaginação ficcional: provavelmente rasgou o papelório, bateu na mesa, destratou auxiliares, disse ser impossível o resultado da pesquisa.  Considerava-se vítima de uma conspiração da direita golpista que tenta derrubar o governo. 

          O desfecho não poderia ser outro: de tanto espumar teve uma crise de hipertensão.

          Correu para o postinho médico, recém inaugurado em frente da sua casa. 

          Mas esqueceu que havia inaugurado um prédio vazio, sem equipamentos, enfermeiros ou médicos.  Apenas toscas paredes caiadas de branco, o vigia dormindo.

          “Acabou indo para a capital.  Se pobre, estaria no cemitério.”

         

Aqui leitor, termina a “matéria” que não saiu nos inexistentes jornais.  Mas Literatura é imaginação.  E nossa história continua em luxuoso hospital na capital, todas as despesas pagas com verbas de representação municipal.  Claro, não vamos esquecer daquela clássica advertência: “Esta história não tem relação com pessoas ou fatos reais, sendo apenas fruto da imaginação ficcional”.

 

 

          Desgraçados, me apunhalaram pelas costas, repetia o prefeito, todo espetado, tubos de soro e medicamentos. 

“A eleição fervendo lá fora e eu no hospital.  Ainda por cima este cantador embaixo da janela.  Já pedi ao governador para dar sumiço no velho inútil neste mundo de deus.  Ninguém toma providências.  Dizem que agora tem um tal de direitos humanos, estes procuradores, sei lá mais o quê.  E eu aqui neste leito, tendo que fechar a janela para não escutar o provocador.”
 
Figura 1 – Tempos de Eleição.  Foto T.Abritta – Alagoas 2012.
 
Figura 2 – Tempos de Eleição.  Foto T.Abritta – Alagoas 2012.
 
Hoje o velho cantador chegou cedo, afinou sua viola, pigarreou limpando a garganta, deu uma cuspidela e abriu sua potência vocal:
 
Eu não tinha nada
e perdi tudo
até a menor que era cabaço
virou bagaço.
 
Morava numa casa de placa.
 
A enxurrada lambeu
a placa cedeu
a criança morreu
cachorro comeu.
 
Agora nós véve na Senzala
tudo amontoado
pros lado do forró da véia.
 
Inté o trem não passa há muito
passou ontem pela última vez.
 
O vereador, seu Licurgo, sumiu
o prefeito, seu Sinho, escafedeu.
 
A deputada, dona Salomé, fedeu
a presidenta, dona Dilcineia, esqueceu.
 
O povo sofreu
feneceu
no necrotério
um lençol estendeu.
 
Minha Casa, Minha Vida – a deles.
 
          O prefeito, nervoso com a audácia do cantador, arrancou os tubos de soro, descolou a fiarada do peito e chegando à janela berrou:
          “Seu inútil filho de uma égua, aqui vai a minha réplica.”
“Quem anda pra trás é caranguejo.”
“Quem gosta de atraso e velharia é museu...”
 
          Nem chegou a terminar.
          A tréplica foi fulminante.  Os médicos nem tiveram tempo...
 
Povinho safado
faladô enganadô
casa de placa milagre da
construção (vil).
 
Lucro no bolso
voto fácil
prestígio parlamentar
satisfação da Casa Civil.
 
Drenagem nós não faz
escoamento também não
fundação só fundamento
entulho socado no chão – molhado.
 
A presidenta quer azulejo
parede só alvenaria – tijolo pro caboclo
quando tudo cai
tempo pra sair devagarinho
de fininho
bem mansinho
tal cordeirinho.
 
Outubro tá chegando
vem comer na eleição
bolsa família-salário educação
apenas sessentinha voando
até minha mão.
 
Povinho safado-faladô-enganadô
vem comer na minha mão
bolsa família-salário educação.
 
Minha Casa
Nossa Vida.
Emprego tem não.